Normalmente em anos eleitorais no Brasil vemos certas coisas ditas ‘nacionais’ serem colocadas a espelho duplo. Digo isto em relação a problemas já existentes e quase insolucionáveis da nação. O caos na saúde pública, a educação precária, o saneamento básico quase pré-básico e os intermináveis escândalos políticos, envolvendo nossos jovens e velhos mancebos do planalto central e semelhantes. Não bastasse os problemas reais a que passamos, o eleitor brasileiro ainda é submetido a mais um episódio, daqueles comuns a estes anos: o folclore das promessas de campanha.
No imaginário mítico-popular, o Saci Pererê é um ser insólito, dotado de uma perna só, mas com grande habilidade e astúcia, que rodopia velozmente fazendo um redemoinho e que anda pelas florestas a aterrorizar visitantes. Um rico exemplo do vasto e criativo imaginário folclórico brasileiro. Mas anuncio aos pesquisadores que estudam esta área, que há uma verdadeira coletânea de “histórias para boi dormir” ainda para serem catalogadas. Ou seja, existem, mas não foram ainda estudadas a fundo nem muito menos classificadas.
Um bom exemplo seria a unânime promessa dos candidatos de fazer o que eles chamam de “ revolução na educação!”. Eis aqui o nosso primeiro título. Outro bem lembrado e dito é “investir pesado na saúde”.Não esqueçamos o famosíssimo “crescimento com inclusão social”, nem o “emprego para toda a família”. Mas atento também ao fato que há sempre uma constante renovação e até criação de novos jargões folclórico. O mais atual é o “Crescimento com desenvolvimento sustentável”.
Neste contexto os eleitores passaram por uma transformação. Há muito se metamorfosearam de cidadãos para consumidores. A democracia, antes vista com lisonja e esplendor das sociedades ocidentais, hoje é vendida em programas políticos fajutos, populistas, cretinos e ridiculamente mentirosos. Quem está no poder usa-o a todo custo para abocanha-lo por mais tempo. Quem quer o poder desusa-o para tentar usá-lo mais tarde. E quem dá o poder aos poderosos? Eles mesmos, claro, com um detalhe: usam o consumidor cidadão.
Acontece que a politica se tornou algo tão banalizado em todas as esferas, que ela, agora, precisa ser maquilada com outros rótulos para ser consumida. Quer dar espinafre para seu filho? Diga que é um troço verde, docinho, que faz bem e que não dói para comer. Após a primeira bicada ele faz cara ruim, mas se você prometer deixá-lo até mais tarde na rua brincando, ele come sorrindo e até pede mais chamando de “gotoso” (no caso de algumas democracias especificas, a promessa seria outra, como na Venezuela, por exemplo).
O que verificamos é que os candidatos estão cada vez mais com a cara de produto, algo como expostos em prateleiras da sessão “leve dois, pague um”. Ao fazerem isso, camuflam suas verdadeiras ideologias e, quando chegam ao poder, revelam sua procedência Made in China, que sempre vem acompanhada de negligência com o país e suas necessidades. Enquanto a própria sociedade não lutar por reformas politicas para uma democracia plena, o que teremos é apenas algo como uma “pseudo-democracia com glúten”, que só faz mal para uma pequena minoria, pois a maioria consome sem nem saber o que significa aquela frasezinha em letras miúdas: “CONTÉM CORRUPÇÃO, SAFADEZA, FALTA DE VERGONHA NA CARA E ATRASO EM ALTAS CONCENTRAÇÕES”.
Romário Basílio
-Gostou? Leia mais em: subescrevo-me.blogspot.com